domingo, 17 de maio de 2009
Dona Vanda, feliz dia das mães!
Em coração de mãe sempre cabe mais um.
Desde que me conheço por gente, essa frase aí de cima é tão real quanto 1+1 é igual a 2. Minha casa sempre foi ponto de encontro. Quando ainda criança, em época de escola, os trabalhinhos sempre eram feitos aqui. Se tinha festa do pijama ou qualquer outro evento noturno, com direito a pernoite e café da manhã, adivinha onde eram realizados? Época de férias, praia e lá vinham minhas amigas, que revezavam estadia na “casa da Vanda”. É isso mesmo, você não leu errado. Dona Vanda é minha mãe e também centro das atenções aqui de casa. Ela faz o tipo mãezona, o que me fazia, as vezes, até ter um pouco de ciúmes. Ta certo que era um misto de ciuminho com um tantão de orgulho, da mãe que só eu tinha. Todo mundo queria ser filho da “Vandeca” e muitas vezes diziam pra mim: “pena minha mãe não ser como a tua”. Eu dava um sorrisão e agradecia, silenciosamente, pela mamy que tenho.
Minha mãe na verdade nem parece mãe. Estranho dizer isso, já que tenho o respeito pela figura hierárquica que ela tem e, ao mesmo tempo, temos a cumplicidade de duas irmãs, duas amigas. Não coloco minha mãe em um patamar de “Deusa”, nem crio fantasias de uma pessoa perfeita, que não erra, dona da verdade, essas coisas. Deve ser também porque ela nunca se mostrou assim pra nós, suas filhas. Minha mãe é a pessoa de cabeça mais aberta que conheço. Ela não parou no tempo, pelo contrário, aprende e evolui com ele. Se perigar é muito mais jovem que eu e minha irmã mais nova juntas. Ela tem a juventude que vem da alma, do coração. É uma guerreira. Batalhou desde pequena, vivendo numa família que não era a dela, conhecendo desde cedo o sabor do desamor. Sabe o que é o mais bonito disso tudo? Foi que ela não deixou essa tal sementinha do rancor, da rejeição, da raiva, por perder tudo tão cedo e se ver assim, sozinha no mundo, brotar em seu coração. Não, essa não é minha mãe, embora tivesse todas ferramentas pra se tornar amarga. A dona Vanda é doce, transborda amor. E bom humor.... Bom não, ótimo humor. Isso puxei dela, com certeza. Não tem tempo ruim, não tem cara feia, não tem quem resistas as histórias que ela conta. Então quando essa pequena criança entra em seus momentos de inspiração... Sai de perto! Não sei como pode sair tanta coisa daquela cabeça. E ela assume que nem faz força. E fala... Jesus! Como essa mulher fala... rsrsrs
Coisa que mais gosto é quando ela deita comigo e minha mana para fofoquear os assuntos do dia. Aí, caro leitor, não presta, ela quase nos mata de tanto rir. Acho graça quando ela nos pede conselhos sentimentais (ninguém merece, poxa, ela ainda é a mãe na história). Lá em casa os papéis estão invertidos. Quantas vezes fiquei esperando ela chegar em casa, altas horas da madruga... AMO ver quando o Jojo (gatinho e xodó dela) apronta horrores e a “vovó” perdoa tudo. E quando ela arranja uns namorados “capa-da-gaita”... Zoação e risos garantidos, inclusive dela. Ela não sabe, mas me divirto, toda vez que quase me mata de vergonha, tentando me casar com todos e qualquer homem solteiro da face da terra (que mico!). Tem também as pérolas, como quando ela exigi que eu arrume um namorado que tenha DR(doutor) e um carro (para trazer as compras do super). Essa figuraça é minha mãe.
Ela é assim, inédita. Um amor incondicional. Ela é doidinha, doidinha; mas é perfeitinha, perfeitinha. Amo tudo nela, até mesmo as coisas que me incomodam, pq sei que suas brigas comigo são sempre por causa da “super proteção materna”, tão aflorada. E no fim das contas, na maioria das vezes, ela estava com a razão. Confesso! Morreria por ela e mato quem a fizer sofrer um dia. Ah matamos! Eu a minha mana, com requintes cruéis e em doses homeopáticas. Mas como diz a Karika, isso não é algo com que precisamos nos preocupar, já que a nossa mãe está anos luz a frente, não é nenhuma bobinha. *orgulho* Juro que quando “crescer”, vou ser igual a ela. Se você não conhece minha mamy, lamento . Agora, se você conhece, sabe o que quero dizer. A Vandeca não tem explicação. Mas não tem problema, não. A dividirei com todo mundo. Tem amor para todos. Minha mãe é daquelas pessoas que fazem o mundo ficar mais bonito e divertido! É o verdadeiro coração de mãe.
A melhor mãe do mundo mora aqui em casa e no meu coração.
Parabéns, mãe! Não só no dia das mães, mas por ser sempre a melhor. TE AMO!!
Tua filhota, Caroline
sábado, 2 de maio de 2009
Para você o que é SAUDADE?
Médico cancerologista, já calejado com longos 29 anos de atuação profissional, com toda vivência e experiência que o exercício da medicina nos traz, posso afirmar que cresci e me modifiquei com os dramas vivenciados pelos meus pacientes. Dizem que a dor é quem ensina a gemer. Não conhecemos nossa verdadeira dimensão, até que, pegos pela adversidade, descobrimos que somos capazes de ir muito mais além. Descobrimos uma força mágica que nos ergue, nos anima, e não raro, nos descobrimos confortando aqueles que vieram para nos confortar.
Um dia, um anjo passou por mim...
No início da minha vida profissional, senti-me atraído em tratar crianças, me entusiasmei com a oncologia infantil. Tinha, e tenho ainda hoje, um carinho muito grande por crianças. Elas nos enternecem e nos surpreendem como suas maneiras simples e diretas de ver o mundo, sem meias verdades.
Nós médicos somos treinados para nos sentirmos "deuses". Só que não o somos! Não acho o sentimento de onipotência de todo ruim, se bem dosado. É este sentimento que nos impulsiona, que nos ajuda a vencer desafios, a se rebelar contra a morte e a tentar ir sempre mais além. Se mal dosado, porém, este sentimento será de arrogância e prepotência, o que não é bom. Quando perdemos um paciente, voltamos à planície, experimentamos o fracasso e os limites que a ciência nos impõe e entendemos que não somos deuses. Somos forçados a reconhecer nossos limites!
Recordo-me com emoção do Hospital do Câncer de Pernambuco, onde dei meus primeiros passos como profissional. Nesse hospital, comecei a freqüentar a enfermaria infantil, e a me apaixonar pela oncopediatria. Mas também comecei a vivenciar os dramas dos meus pacientes, particularmente os das crianças, que via como vítimas inocentes desta terrível doença que é o câncer.
Com o nascimento da minha primeira filha, comecei a me acovardar ao ver o sofrimento destas crianças. Até o dia em que um anjo passou por mim. Meu anjo veio na forma de uma criança já com 11 anos, calejada porém por 2 longos anos de tratamentos os mais diversos, hospitais, exames, manipulações, injeções, e todos os desconfortos trazidos pelos programas de quimioterapias e radioterapia.
Mas nunca vi meu anjo fraquejar. Já a vi chorar sim, muitas vezes, mas não via fraqueza em seu choro. Via medo em seus olhinhos algumas vezes, e isto é humano! Mas via confiança e determinação. Ela entregava o bracinho à enfermeira, e com uma lágrima nos olhos dizia: faça tia, é preciso para eu ficar boa.
Um dia, cheguei ao hospital de manhã cedinho e encontrei meu anjo sozinho no quarto. Perguntei pela mãe. E comecei a ouvir uma resposta que ainda hoje não consigo contar sem vivenciar profunda emoção. Meu anjo respondeu:
- Tio, disse-me ela, às vezes minha mãe sai do quarto para chorar escondido nos corredores. Quando eu morrer, acho que ela vai ficar com muita saudade de mim. Mas eu não tenho medo de morrer, tio. Eu não nasci para esta vida!
Pensando no que a morte representava para crianças, que assistem seus heróis morrerem e ressuscitarem nos seriados e filmes, indaguei:
- E o que morte representa para você, minha querida?
- Olha tio, quando agente é pequena, às vezes, vamos dormir na cama do nosso pai e no outro dia acordamos no nosso quarto, em nossa própria cama não é?
(Lembrei minhas filhas, na época crianças de 6 e 2 anos, costumavam dormir no meu quarto e após dormirem eu procedia exatamente assim.)
- É isso mesmo, e então?
- Vou explicar o que acontece, continuou ela: Quando nós dormimos, nosso pai vem e nos leva nos braços para o nosso quarto, para nossa cama, não é?
- É isso mesmo querida, você é muito esperta!
- Olha tio, eu não nasci para esta vida! Um dia eu vou dormir e o meu Pai vem me buscar. Vou acordar na casa Dele, na minha vida verdadeira!
Fiquei "entupigaitado". Boquiaberto, não sabia o que dizer. Chocado com o pensamento deste anjinho, com a maturidade que o sofrimento acelerou, com a visão e grande espiritualidade desta criança, fiquei parado, sem ação.
- E minha mãe vai ficar com muitas saudades minha, emendou ela.
Emocionado, travado na garganta, contendo uma lágrima e um soluço, perguntei ao meu anjo:
- E o que saudade significa para você, minha querida?
- Não sabe não tio? Saudade é o amor que fica!
Hoje, aos 53 anos de idade, desafio qualquer um dar uma definição melhor, mais direta e mais simples para a palavra saudade: é o amor que fica!
Um anjo passou por mim... Foi enviado para me dizer que existe muito mais entre o céu e a terra, do que nos permitimos enxergar. Que geralmente, absolutilizamos tudo que é relativo (carros novos, casas, roupas de grife, jóias) enquanto relativizamos a única coisa absoluta que temos, nossa transcendência. Meu anjinho já se foi, há longos anos. Mas me deixou uma grande lição, vindo de alguém que jamais pensei, por ser criança e portadora de grave doença, e a quem nunca mais esqueci. Deixou uma lição que ajudou a melhorar a minha vida, a tentar ser mais humano e carinhoso com meus doentes, a repensar meus valores.
Hoje, quando a noite chega e o céu está limpo, vejo uma linda estrela a quem chamo "meu anjo, que brilha e resplandece no céu. Imagino ser ela, fulgurante em sua nova e eterna casa.
Obrigado anjinho, pela vida bonita que teve, pelas lições que ensinastes, pela ajuda que me destes. Que bom que existe saudades! O amor que ficou é eterno.
Rogério Brandão
(Médico oncologista clinico)