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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Conto de areia


Mamãe esperou trinta anos de sua vida pra ver seu maior sonho realizado. Ela conta que cada minuto, de cada gestação que teve (foram duas), foi curtido intensamente. Depois de tudo pronto, quarto e roupinhas, fora os vários babeiros pra tias e tios, fechou os noves meses e nada. Até certo ponto minha mãe estava tranqüila, afinal cada bebê tem seu tempo. Tudo seria ao natural e a sua guriazinha chegaria na hora que Deus mandasse. No fim a espera foi virando ansiedade e aquele bebê estava mais pra filho de burro, tinha empacado lá dentro e nada no mundo fazia com que saísse. Veio a mudança de lua, e nada. Barriga mais baixa, bolsa rompida, e nada. Até que não teve escapatória, acabou a espera com uma cesariana e um bebê que já passava do tempo, dentro de uma incubadora neonatal.

Tudo isso pra contar uma história bem fofa, que começa lá no meu nascimento. Sempre fui uma criança muito saudável, graças a Deus e aos cuidados que tive, mas já dava sinal que meus pais teriam muito trabalho, desde as primeiras horas de vida. Dito e feito, era muito travessa, algo que me colocava em situações de apuros, vez que outra. Muito destemida, ou melhor, sem noção mesmo, desde os primeiros passos, era um perigo se quer pensar em piscar e nisso me perder de vista. Teve uma vez, que brincando de índio com minha mana, coloquei fogo numa mochila, pra fazer uma fogueira. Se mamãe não chegasse a tempo, o estrago poderia ter sido bem maior, além do carpete e uma cortina chamuscada. Perdi as vezes do número de visitas ao pronto socorro, hora com algo enfiado nas narinas ou ouvidos, outra por me quebrar ao cair de bicicleta ou escalando os móveis. Até os setes anos foi assim, um permanente sinal de alerta. Em todas minhas fotos de pequena, as que minha mãe aparece, sempre tem carinha de cansadona. Dá um dó.

Sei que a coisa foi ficando demais, conforme eu crescia. Como não tinha noção, nem medo do perigo, precisava de vigia constante. Nas férias de inverno, em 86, fomos pra casa de praia. Como lá era mais tranqüilo, ficávamos mais soltas, pra correr no pátio, andar de bici, brincar de pique esconde e até mesmo se aventurar longe das vistas de nossos pais. E foi numa dessas, que sai pedalando, pra espairecer, em direção ao mar, a duas quadras de casa. Não consigo lembrar direito desse dia, sei pelo que minha mãe conta. O que ficou guardado foi o desespero, na hora que me encontraram. O choro de mamãe, enquanto quase me esmagava num abraço. Disso eu lembro, mas de resto, quase nada.

Custou um tempinho curto, pra que dessem minha falta, mas foi o suficiente pra eu chegar até beira mar. Minha mana sempre foi mais paradona, desligada mesmo. Mamãe conta que era uma graça, ela toda gordinha, tentando acompanhar minhas traquinagens. Tínhamos ficado as duas andando de bicicleta no pátio de casa e provavelmente ela nem tenha se dado conta que sai. Quando meus pais me acharam, estava sentada ao lado da bicicleta, olhando o mar. Depois de mais calma, quando me perguntaram o que fazia lá, falei que minha amiguinha havia me levado pra ver uma moça. Importante contar que tinha essa amiga imaginária (Bêla), que tenho certeza ser um anjinho que me acompanha até hoje, embora já não tenhamos a mesma comunicação daquela época, mas está sempre aqui, no coração. Como já contei uma vez, minha mãe é kardecista e praticante na sua mediunidade, e foi no espiritismos que encontrou algumas respostas, que muito a ajudaram a lidar melhor com esse meu espírito “fujão” , como explicaram mais tarde e outra hora posso até contar aqui.

Sei que foi no verão, do ano seguinte, que veio parar em meus pés um chaveiro, com a foto daquela moça tão linda, que havia visto no mar. Corri até minha mãe, contando que foi ela que tinha visto. Então, dentro do possível, mamãe explicou a história desta mulher, que cuida de todos os mares e seus filhos. E foi aí que minha curiosidade havia sido tocada, através deste fato que aconteceu lá na minha infância, e que aos 14, 15 anos, fez eu conhecer mais a fundo essa história tão linda, desta mãe guerreira, tão presente em minha vida, tão viva dentro de mim. Sempre íamos pra praia no verão e ficávamos “murchas”, de tanto molho n’água. Todos os anos o mar deixava em meus pés seus espelhos, pentes, chaveiros, batons e flores. Conforme fui crescendo, vieram várias fases e uma delas era de “guria metida a surfista”. Quem mora aqui no sul bem sabe como é nosso mar. Foram muitas as vezes que brigava feio contra o repuxo, ou aquele Nordestão, que virava a maré de pernas pro ar. Não teve um dia se quer que deixasse de pedir licença e proteção pra entrar nas águas de Iemanjá, assim como não teve um só dia em que não me senti parte daquela imensidão azul. Fechava os olhos e buscava ouvir seu canto, quem sabe vê- la, entre uma onda e outra, qualquer coisa que a trouxesse pra mais perto. Mas quem disse que precisa provas, pra sentir?

É nesse marzão que recarrego minhas forças e renovo energias. São nessas águas que recebo seu colo de mãe. Coisa boa, viu? Estava precisando mesmo...
E todos os anos é assim, jogo flores no mar, pra Iemanjá.
Vou jogar flores no mar, pra Iemanjá.
Que ela proteja a todos nós!

Caroline

8 comentários:

Núbia disse...

Que bom que apareceu Carol, saudades de você viu?

Beijo!

Fernanda Magalhães disse...

Saudades doce Krol!!

Viltei pra o trampo e ando sem tempo pra net...Bjos de luz minha linda!

Ro disse...

Carol,
tá sumida hein, saudades.... mas gostei das mudanças que fez por aqui...

História bonita a sua hein... Sabe contar muito bem os detalhes da tua infância...


Beijos!

Duda Martinez disse...

Salve Caroline! Que coisa mais linda esse seu post. Amei!!!
Beijos e Bom Retorno

. disse...

Lindo post Carol..
estava com saudade de vc.
Beijos

Welker disse...

Já que você apareceu, eu também aparecerei.

Apareci... bu!

. disse...

Tem selos para vc lá no blog
Beijos

disse...

Oi coisa linda e sumida!!!!
Ganhei selinho e te repassei! Bj.

http://umcertouniverso.blogspot.com/2009/02/selinho.html

Tem mais alguém aqui?