Quando eu era pequena, ou melhor, assim que nasci, morávamos em uma casa coladinha a da minha avó. Ficamos lá até um pouco antes da minha mana nascer, a poucos meses de completar meu segundo ano de vida. Portanto, dos dias vividos lá, não tenho lembranças muito significantes. São sons, cheiros e flashback’s, que nem sei ao certo se são reais. Depois disso, papai comprou esse apartamento, em que estamos até hoje. Ainda lembro, como se pudesse voltar no tempo, de como foi crescer e descobrir diversas possibilidades de “traquinagens”, pra desespero da mamãe.
Mesmo com tantos brinquedos, joguinhos e bonecas, minha maior paixão era um buraco. Isso mesmo, um simpático compartimento, de 1 metro e meio por 1 e 20 de largura, cravado na parede do quarto da mamãe, ao lado da porta da sacada. A portinha de entrada é estreita, deve ter no máximo meio metro e fica camuflada, quase que esquecida ali, por trás das persianas. Até hoje não sabemos pra que raio fizeram isso. Nós mesmo, já usamos pra vários fins. De esconderijo ultra-secreto, a depósito de “materiais de extremo valor sentimental e apego emocional”, ou seja, cacarecos do coração. Na falta de sótão, tudo aquilo que não conseguimos jogar fora, vai pro “cantinho das quinquilharias”.
Lembro que eu e minha mana adorávamos brincar de elo perdido, igual o seriadinho que passava na nossa infância, ali era nossa caverna. A imaginação criava asas e voava... Podia ser o que quisesse, naquela hora. De princesa presa na torre, a Chitara dos Thundercats, só queria saber de brincar. Engraçado, como na época aquele cantinho parecia tão grande, visto por duas crianças de 3 e 5 anos. Bom mesmo era no verão, por que a parede não tinha revestimento, era geladinho, bem fresquinho. Quem não gostava muito era mamãe, que quase enlouquecia, cada vez que nos pegava lá dentro. Dizia que tinha pó, que tínhamos alergia, podia ter aranhas, blá blá blá... Mas era batata, podia apostar. Silêncio na casa e duas guriazinhas sumidas, tinha endereço certo.
Outras vezes, vencíamos a nossa mãe no cansaço. Então, ela brincava de esconder conosco. Ficava contando, bem lentamente, enquanto corríamos pra nos esconder. Adivinha onde? Mamãe fingia estar complicadíssimo nos encontrar e nos levava a risinhos de ansiedade, pura felicidade, contidos por mãozinhas gordinhas, que seguravam a boquinha, pra não serem descobertas. Acho que se tivesse mais espaço, saltitávamos de euforia. Ele segue lá, basta olha –lo, e feito mágica, volto no tempo, em que me divertir era minha maior preocupação. Ah! Era tão bom...
Conforme fomos crescendo, aquele refúgio foi encolhendo, passar na portinha era um problema. Perdemos também a preferencial, já que papai achou outras serventias pra ele. Mandou forrar a parede com madeira, colocou umas prateleiras e inauguramos um porta malas... Coisa mais sem graça. Humpf! Só não tinha espaço pra mais duas “malinhas”... hehehe.
Assim, terminava nossa história de amor. Custei muito a aceitar, esse corte tão brusco, do meu fiel amigo e escudeiro, o buraco. Mas tudo bem... Superei sem maiores traumas. E como uma linda e doce “anjinha”, que fui quando criança, não demorou muito a inventar novos meios de encher mamãe de fios brancos.
Já contei das cabaninhas, feitas com lençol e cobertores, amarrados na cama? Ô tempo bom...
Um comentário:
Eu costumava dar nome para os meus castelos (que você chamou de cabaninha, mas que pra mim é castelo porque eu sou macho, hehehe).
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