Quando eu era pequena e minha vó ainda estava conosco, passávamos as noites de natal em sua casa. O 25 de dezembro, de um distante 1986, foi o que mais marcou minha infância. Lembro que nessas festas natalinas mamãe nos vestia sempre com um vestidinho, geralmente chadrezinho, nas cores vermelho, azul, dourado e verde. Nossa vó que costurava, eram feitos de veludo, bem “repolhudos”. Tinham um cinturão, bem abaixo do peito, alcinhas e um laço nas costas. Pra combinar, uma fita no cabelo, que teimava em não parar, deslizando pelas madeixas escorridas, de tão lisas.
Vovó morava num casarão antigo, daqueles enormes, que pegam meio quarteirão. Pra nossa alegria, era todo nosso, já que meus outros primos já eram adolescente naquela época. A casa tinha uma biblioteca bem grande, com prateleiras de livros que iam até o teto. Minha vó era professora de letras e literatura, e foi dela que puxei a paixão pelos livros. Gostava tanto de sentar no tapete fofo, bem junto aos seus pés, só pra ficar ouvindo historinhas. Ainda posso sentir o cheirinho dela, sempre que fecho os olhos. Usava aqueles perfumes antigos, da Avom, que nem fazem mais... Saudade dela.
Naquele ano, havia encomendado ao Papai Noel, uma bicicleta nova. Já sabia andar sem as rodinhas, era hora de ganhar uma “bici” de mocinha. Tínhamos ido até a loja, pra escolher o modelo que eu queria, pra só então enviar a cartinha ao bom velhinho. Era uma Calói Ceci, rosa, com uma cestinha branca. Fiquei apaixonada, assim que vi. Mal sabia, que ela seria minha companheira de muitas aventuras... E tombos também.
Um mês depois, havia chegado a grande noite. Na casa da vovó, o natal era tradicional, com presentes embaixo do pinheiro e na mesa, toda família reunida, esperando as gostosuras que ela mesmo preparava. Na ceia tinha peru, panetone, salpicão, rabanada, arroz grego e muitos doces. Não tinha um, que não saísse com uns quilinhos a mais. Com um certo custo, esperava a meia noite acordada. Minha mana não resistia, sempre dormia. No meu caso, a ansiedade, pela chegada do Papai Noel, me mantinha “ligadona”. Minha vó fazia uma oração, antes de ceiarmos. Na época não entendia direito, mas sabia que devia ficar quietinha, comportada, pois vovó estava falando com papai- do- céu. Eu só contava os minutos, pro grande momento da noite...
Acredito que, quando o relógio cuco deu as doze badaladas, meus olhos devam ter brilhado. Aí era só esperar, pois sabia que a qualquer segundo ele chegaria. Passaram 10 minutos, 15, 20, meia hora... E nada. Perguntei pro papai, sobre minha bicicleta, ele disse que esperasse um pouco mais, afinal o Papai Noel atendia a todas criancinhas, do mundo todo. Recordo de ter aberto os outros presentinhos, dados pelas tias, dindas, vó, primos. Mas o que mais desejava, não tinha vindo.
Fomos pra casa, sentada no banco de trás do carro, estava frustrada. Desconsolada, tentava entender o pq do bom velhinho ter esquecido de mim. Fora o medo, que bateu... Pq não era das mais comportadinhas, né? hehehe Chegando em casa, enquanto nos aprontávamos pra dormir, mamãe tentava me consolar. Foi quando ouvimos um barulho na porta. Pensei assim: “naquela hora, só poderia ser ele... Ele veio.” Meu coração deve ter parado, pq ainda me emociono, só de lembrar daquela cena. Nisso, minha mana já despertou e cada uma ganhou um colinho, indo em direção a porta de casa. Sentia um misto de medo e euforia, enquanto girava a maçaneta, junto com o papai. Mal conseguia respirar, quando olhei as duas bicicletas. Estavam bem ali, montadinhas e enroladas com um lindo lacinho. Ainda podia jurar ter ouvido as renas e suas sinetinhas... Bem mais do que ter ganho aquele presente, minha maior felicidade foi em saber que o Papai Noel não falha, não esquece.
Só fui perceber dois anos depois, que durante todo tempo era meu pai que se vestia de bom velhinho. Na alegria do momento, entre um HO HO HO e outro, jamais percebi que os dois papais, o meu e o Noel, nunca dividiam o mesmo ambiente.
Doce ilusão infantil. Doces lembranças, que trago comigo.
Caroline
9 comentários:
Eu odeio Natal. Hoje.
Mas amava o Natal quando era criança. Mas não vou relatar o porquê, afinal, ficaria redundante em relação ao seu depoimento. Ia parecer Ctrl C+V. Ia ficar como plágio. (Relembrei quando ganhei minha Ceci, sem rodinhas! Ai que medo de cair!)
Nesse momento, mais do que nunca, queria ser criança de novo, com uns 6 anos no máximo. Obrigada, acariciou meu coração com esse post.
Obrigada de novo, pelo comentário. Linda! Abração.
As melhores lembranças da vida são as da infancia principalmente quando se tem uma familia feliz.
beijos.
EU TB TENHO BOAS LEMBRANÇAS DE QD CRIANÇA...
Pena que a gente cresce...podíamos ficar assim pra sempre não?(oh!doce ilusão!)...
rsrsrs
Bjo!
Comigo tudo foi mais tenso. Descobri que o Papai Noel era o meu tio quando mandei o cachorro atacar um ser nebuloso trajado de vermelho. Ele tentou pular o muro de casa, mas a queda fez com que ele quebrasse os presentes.
Só depois eu me dei conta de que aquele natal foi um dos melhores que eu já tive :T
carool, para quem disse que não era boa com as palavras... essa história então foi oq, um surto em reuni-las ?? rss
Garota, vc escreve muuito bem!! fofinho tb foi o jento como vc contou-a!!
Me peguei até em lembrar do meu tb momento de descoberta de quem era o verdadeiro papai noel. Mais no meu caso contei com a ajudinha do meu irmão, que não aguentava mais em esconder essa mentirinha!
Ilusões e momentos como este em família que tornam as nossas lembranças inesquecíveis !!
BJãoo
Mulher... mudou o blog todo... que revolta foi essa????
Olha... Natal, não é uma data que me tras boas lembranças não!!!
Beijossssssssssssssssssssssssssssssssssss
VIVENDO SOLTEIRO - Aqui, ser solteiro é algo muito interessante!!!
http://vivendosolteiro.blogspot.com
aaah, eu chorei horrores quando descobri que era meu pai.
Mas sabe, ainda tenho minhas duvidas.. já vi tanto filme ligado a isto, que to começando a rever minhas crenças infantis.. mua haha!
otimo post. otimo blog.
Que delícia de texto, muito bem escrito por você.
Natal da infância é sempre muito bom, tenho muita saudade, mas sei que isso ficou lá atrás.
Logo, logo, sou eu a contar histórias pros meus netinhos, se Deus quiser!
Beijão
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