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domingo, 2 de novembro de 2008

Seguindo em frente...


O ano de 2006 ia exatamente igual aos demais, sem muitas perspectivas de mudanças, unido á um conformismo pelo que a vida trazia. Aquela Carol não era nem sombra da Carol de hoje. Naquele ano, acabava mais um relacionamento mal sucedido. Não sei ao certo o que acontece, mas sempre penso que dessa vez vai correr tudo bem, sem criar maiores expectativas, porém desejando que desse realmente certo. Essas coisas, quando não estamos bem, são como uma gigantesca e pesada âncora, que te puxam pro fundo. Fica tudo tão pesado, tão sufocante, que você não tem ao menos vontade de lutar contra isso... E nisso, se afunda, cada vez mais.

Nunca fui de “dar bola” pra qualquer coisa relacionada a internet. Como trabalhava sendo babá, o máximo que usava era com as crianças, visitando sites infantil. Minha mana vivia insistindo pra que eu fizesse um ORKUT, MSN, buscar conhecer gente diferente e reencontrar velhos amigos. Começou aos poucos e quando vi estava encantada, com aquele novo mundo. Portanto, dois anos atrás, era uma ignorante total, no assunto “universo virtual”. Não tinha nenhum traquejo, é como se tivesse caído de para- quedas, nesse lugar fascinante e perigoso.

Nessa mesma época, era fã do seriado Lost. Havia descoberto uma comunidade no Orkut, que repassava, em primeira mão, todas as última novidades sobre a série. E foi lá também, através desta comunidade, que conheci o mundo FAKE. Para quem não sabe, no Orkut há milhares de pessoas com perfil fake. Alguns roubam fotos de uma pessoa qualquer e usam como suas, assumindo sua identidade. Há outros casos, como era o meu, em que um grupo de pessoas, que compartilham o mesmo interesse e admiração por um certo artista ou programa e criam um perfil falso. Funciona mais ou menos assim, tentarei explicar: tu entra para aquele grupo e interage como se fosse a pessoa. É como brincar de boneca, ou criar uma vida a parte. Nisso formam-se grupos de amigos, muito fechado, famílias virtuais, num mundo de faz de conta, algo surreal. A pessoa escolhe e caso queira, não precisa se revelar.

Até aí tudo bem, pq tudo nada mais era do que uma brincadeira. Paralelo aos dias maçantes que eu tinha, na vida real, encontrava no fake um sonho. Podia ser quem eu quisesse. Escolhia cada nuance, daquela tela criada por mim. No meio dessa história, conheci uma pessoa muito especial, que dividiu comigo momentos de muita diversão, que me trouxeram felicidade. Só que era uma coisa fantasiosa, irreal, impalpável... Criamos juntos uma família, uma outra vida qualquer. Tínhamos um pacto, de não misturar as coisas, de não envolvermos as duas pessoas que existiam por trás dos personagens. Sabia somente o essencial sobre ele: idade, nome e onde morava; e vice versa. Assim, tudo começou...

Foi bem complicado pra mim, impossível seguir o combinado. Misturei tudo na minha cabeça e acabei metendo os pés pelas mãos. Estava muito carente, sei lá... Não esperava nada da vida. Acordar, a cada nova manhã, era só mais uma das coisas que fazia “robóticamente”. Não acreditava nem em mim. Me via de um modo muito cruel, me achava horrível, gorda, feia. Carregava o peso de uma tristeza, lá no meu íntimo, sempre encoberta por um sorrisinho sem vontade. Não tinha uma visão de futuro, pois me sentia derrotada. Então, ter aquela pessoa escrevendo “te amo”, falando coisas que desejava tanto ouvir, ter a atenção e sentir que era importante pra alguém, foi enchendo meu coração de calor, me deixando enamorada, encantada. Talvez essa seja a palavra perfeita, vivia sobre encantamento. Mesmo sabendo que aquilo tudo não era pra mim, mesmo sabendo que jamais passaria disso, até mesmo tentando lutar contra, acabei amando aquele rapaz. Naquele momento, não me importava nada disso. Era feliz pelo simples ato de ama- lo e só.

Por um ano e meio vivi uma vida de faz de conta, perdi minha identidade, deixei escapar o controle do racional. Isso afetou meu dia a dia. Como uma droga, fiquei viciada, dependente total daquela ilusão. Já não fazia meu trabalho direito, mal cumpria com minhas responsabilidades. Vivia uma idéia fixa, só pensava nisso, em estar em frente da tela do computador. Não consigo traduzir em palavras, tudo que eu sentia, no meio daquela loucura toda. Passava as madrugadas inteiras online. No outro dia, cedo tinha que trabalhar e não foram poucas as vezes, que me pegava cochilando. Vício é uma doença muito triste, pq a pessoa que é dependente não sente. Tive discussões terríveis em casa, com minha mãe, que tentava me mostrar as conseqüências disso tudo. Acontece que eu não aceitava, não conseguia ver nada disso.

Com o tempo passei a conhecer melhor o M., sua história e cada vez mais me apaixonava. Ele era tudo aquilo que sempre busquei encontrar. Mas aí, conforme ele ia despindo aquela máscara do fake, ia me desiludindo com minha própria história. O que eu tinha pra contar? O que tinha feito da minha vida? No meu ponto de vista, naquela época, me sentia um nada. Tinha vergonha daquela minha realidade, que me fazia sentir inferior a ele. Fazíamos parte de mundos diferentes. A verdade é que em outra situação, era bem provável que jamais nos encontrássemos. Ele tinha uma carreira, planos... Eu só queria viver no faz de conta, queria desesperadamente poder não acordar daquele sonho. Tudo que queria, era fugir daquela maldita realidade. Como não me aceitava e tinha muito medo de perde-lo, inventei outra história, tentei me encaixar de um modo que ele me aceitasse, que eu fizesse parte do “grupo”. Como fui boba, meu Deus!!! A mentira é uma coisa complicada, cria raízes, quando você vê está toda enrolada nela e chega um ponto que não tem mais como voltar atrás.

Logo após meu aniversário, em 2007, meu corpo começou a cobrar todo desleixo e essa tamanha falta de amor próprio. Nisso, minha saúde começou a dar sinal de que algo não ia bem. Foi uma coisa atrás da outra. Estava tão triste, tão deprimida, que encontrava meu porto seguro toda vez que podia fugir do mundo real. Naquele momento, esquecia de tudo, os problemas faziam parte de uma outra pessoa, não daquela Carol, que se mostrava no virtual.

No final do ano ele foi embora. Foi trabalhar no exterior. Quando me vi sem a companhia dele, fiquei perdida, era como se tivessem levado um pedaço do meu coração. Foram muitos dias e noites de choro. Foi difícil, muito difícil, assimilar e aceitar isso tudo. Tivemos pouco contato, depois que ele teve que partir. Por um tempo me sentia usada, pq assim como eu, o M. não tinha compromisso com ninguém, podendo estar muitas vezes presente. Nos encontrávamos todos os dias, umas seis horas no mínimo, sendo que nos finais de semana era bem mais que isso. Tínhamos interesses comuns, um precisava da companhia do outro. E quando ele não precisou mais de mim, simplesmente havia me descartado. Custei, mas aprendi que não é nada disso. Eu havia projetado nele algo que não poderia me dar. Sabia desde o início, que tudo tinha prazo pra acabar e seria injusto cobrar o contrário. Mas vai dizer isso a um coração em pedaços. É mais fácil culpar o outro e lamentar, não é? Mas tinha algo, que não me deixava em paz, pois ainda não tinha contado toda verdade e, nas poucas vezes que escrevia, seguia com as mentiras, que enganavam somente a mim mesma.

Noites mal dormidas, péssima alimentação, sedentarismo e um descontrole emocional, desencadearam um problema sério de saúde, enfrentado no meio deste ano. Pensei que não fosse me recuperar. Ter a sensação de ver a vida por um fio, nos faz repensar em tudo. Se eu tivesse oportunidade, de voltar no tempo, teria feito tudo diferente. Talvez nem tivesse embarcado nessa história de fake, pq o coração que tenho é um só e provavelmente não saberia separar as coisas, como acabou acontecendo. Se eu tivesse uma única chance, teria sido sincera, desde o princípio, contando quem realmente sou. E dane-se ser aceita ou não. Minha verdade é essa que tenho e não me faz melhor ou pior que ninguém. Me faz única e ao mesmo tempo tão igual. Acredito que, em resumo, somos apenas isso: iguais, tentando com desespero se destacar, chamar atenção de alguém, sentir que podemos fazer a diferença.

Enquanto fazia meu tratamento, recebi um email dele. Encarei como uma chance e, criando coragem, abri meu coração. No meio de tantas palavras soltas, consegui transparecer minha alma, meus medos e segredos, os sonhos perdidos e esperanças. Escrevi sem receio, contando tudo aquilo que, muitas vezes, me custa aceitar. Foi nosso ultimo contato. Tem certas coisas que não podem ser consertadas. Talvez tenha sido tarde demais, pra pedir desculpas.

O ano de 2008 foi bem difícil. Tive que encarar velhas verdades, alguns medos, redescobrir minha fé, encontrar perdido, em algum lugar qualquer, meu amor próprio. Tive que deixar partirem velhos fantasmas, aprender a deixar de amar... Olha, foi uma batalha diária, cansativa. Tinha dias que eu vencia e outros que o desânimo e a depressão me derrotavam. Tirei forças não sei de onde, mas consegui. Fiz terapia, ganhei colinho da mamãe, consolo na presença dos amigos, saí pra rua, vi gente, acordei pra vida.

O saldo desta história? Bom... Esse ano e meio, em que estive doente, ficou como uma lacuna, um espaço vazio, perdido no tempo. Era como se fosse uma telespectadora, assistindo a vida passar, sem o controle de nada. Sei que são dias irrecuperáveis, que poderiam ter tomado outro rumo qualquer. Vai saber, não é? Tento pesar na balança, as coisas boas e ruins, e nesse filtro ficar somente com as boas lembranças. De tudo que nos acontece tiramos uma lição. Esse tombo foi grande, porém me deixou mais forte, confiante. Hoje estou de bem comigo mesma. O resto... O resto é o resto. E a vida segue. Que venha o que tiver de vir, estarei pronta para o que for.

Sabe de uma coisa? Alguns meses atrás, parecia que isso não teria fim, que aquela dor não passaria, que a tristeza tinha feito morada por aqui... O problema parecia tão grande, insolucionável. O tempo passa, tudo passa... A vida pode não ser fácil, todos sabemos disso, mas não há nada que o tempo não cure, amenize.

Caroline

5 comentários:

Welker disse...

A depressão é uma época em que toda a sua criatividade é renovada. Então, talvez tudo isso tenha sido uma espécie de preparação para a descoberta do seu talento para escrever.

Acho que eu já vi essa história acontecendo uma vez...

Mas animação, se essa foi a pior parte, o melhor ainda virá ;D

Fernanda Magalhães disse...

Linda carol, quero que saibas que depois do que li e reli aqui minha admiração só aumentou pela tua pessoa, guria tens uma alma bela e estou encantada...No universo existe os escolhidos e vc é um desses escolhidos...Existem como vc varias e inumeras pessoas que já passaram ou ainda passam pela mesma situação q vc passou, mais nem todas tem a capacidade de assumir isso, de se libertar. De voltar a ser o seu "Eu" verdadeiro.

Que Deus continue te abençoando.

Grande Carol!!!

Bjos amada!

Olavo disse...

Carol..puxa vida,me emocionei lendo sua história,vc é nova ainda..tem sua vida inteira para ser o que quiser..ainda bem que tomou ela de volta em suas mãos.
Adorei seu blog.
Beijos

vincent PERRAUD disse...

très beau.
Beaucoup de peosie.
Voir photrom.fr
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Vera Vilela disse...

Carol querida, não se arrependa de nada, nossa vida está em constante evolução, tudo é aprendizado.
Sofro de depressão a anos, eu digo sofro porque já descobri que essa droga não tem cura, apenas tratamento. Estou sempre de olho pra não afundar, me livrei de remédios tradicionais e troquei por meditação e oração. Mas o que o Welker disse ali em cima é cheio de verdade, sempre após as crises nasce uma nova Vera, uma nova visão, uma nova maneira de enxergar a vida. É como a flor-de-lótus que a toda manhã emerge do fundo da lama, sem se contaminar, e desabrocha para um novo dia.
Beijos e fique na PAZ!

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