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sábado, 11 de outubro de 2008

Coisas a contar sobre minha infância



Acordei cedinho, como faço desde bebê. Pra desespero da minha mãe, jamais fui destas crianças que tiravam um soninho no meio da tarde e dormia um pouco mais pela manhã.
Saí da minha cama e na passagem ela me chamou, pra deitar um pouco ao seu lado. Estávamos lembrando e rindo, das histórias que tenho, da minha infância. Daria um livro bem divertido. Sempre fui muito curiosa e esperta, TERRÍVEL seria uma boa definição. Com meus 4 anos descobri o que era menstruação e fiquei fascinada. Acho que acabei vendo minha mãe usar um absorvente e daí em diante queria ser mocinha, que pela explicação da mamãe era quando eu usaria também. Sem ela saber, comecei a usa-los, passando batom para imitar o sangue. Teve um dia que estávamos no carro do meu pai, indo consultar, de repente lembrei do “Modess” e perguntei:
- Mamãe, o médico vai me examinar?
_ Claro filha!
Não tive dúvida, arranquei da minha calcinha e joguei pela janela. Mamãe queria morrer de vergonha. Imagina se cai num vidro de outro carro... Mas qdo se é criança tudo é simples assim, resolvido na hora. Teve outra vez que fomos até uma pracinha, eu e meu absorvente. Era um dia de muito calor e aquilo começou a me incomodar. Na maior naturalidade, fui onde estavam todas as mães e perguntei a minha, se podia tira-lo. Isso com ele já em mãos...
- Meu Modess, mamãe.
Tadinha, já fiz ela passar por situações que racham a cara de vergonha.

Papai tem uma irmã solteirona, que morava junto com minha vó. Elas brigavam muito e devo ter escutado alguma coisa da minha mãe comentando. Um dia, essa tia veio em casa com dois presentes, um pra mim e outro pra minha mana, eram duas colchas lindas, que ela havia feito. Mamãe conta que conhecia minha cara. Qdo eu ficava parada, analisando a pessoa, é que chumbo grosso vinha por aí. Depois de olhar pra minha tia, falei na maior ingenuidade:
- Viu mamãe? Depois a senhora fala que ela é ruim...
O bom de ser criança é não ter papas na língua, e isso pelo simples motivo de estar despido de maldade. Tanto eu, como minha mana, fomos sendo ensinadas das malícias de “gente grande” conforme fomos crescendo. Tudo natural, sem pular etapas ou atropelar o tempo. Lembro qdo aprendi sobre as drogas e que não devia aceitar nada de estranhos. Podia ser quem fosse, se vinha alguém oferecendo algo, já ouvia:
- Não posso aceitar, moço. Pode ser “dógas”.
Ah! Tem a vez que começava a aprender a ler, encontrei uma revista em casa e fui até o papai.
- Olha papai, como já sei ler: fazendo SEXO (lido com som de xo) seguro...
Era algo deste tipo. Minha mãe veio correndo, ver que eu fazia com uma revista dessas. E LÓGICO que veio a indesejada perguntinha:
- Que é sexo, mamãe?
Papai deve ter ficado vermelho e com certeza sobrou pra dona Vanda. Nessas horas, qdo são filhas mulheres, sempre sobra pras mães mesmo.

As lembranças mais remotas que tenho, são dos meus 3 aninhos. Nessa época minha mãe trabalhava no Hospital de Clínicas. Na saída da escolinha, papai levava eu e a minha irmã pra buscar a mamãe no trabalho. Ela trabalhava na Hemodinâmica e aqueles corredores do andar, que não tinham quase ninguém, dava um misto de medo e aventura. Posso sentir até hoje, o cheiro da borracha das luvas, que as enfermeiras enchiam com ar e me davam, com rostinho pintado a caneta. Saía tbém cheia daqueles palitinhos de examinar gargantas e propé, que na minha imaginação infantil, eram sapatinhos mágicos. Engraçado que nunca quis seguir os passos de minha mãe. Deve ser pq morro de medo de doença, sentir dor... Injeção então, é dos maiores pavores que trouxe pra vida adulta. Sempre que brincava com minhas bonecas, ou até mesmo qdo perguntavam o que seria qdo crescesse, já sabia.
_ Quero ser “pofessora”.
Hoje vejo crianças vivenciando o que já passei. Vejo o brilho em cada olhinho, ao descobrir um mundo novo. Vejo a simplicidade das coisas que os encantam e posso me ver através de cada um deles.

Estas são somente algumas passagens da minha vida. Nossa, são tantas histórias! Lembro sempre da minha infância com muita saudade. Fui uma criança feliz e que aproveitou tudo que podia. Devo muito do que sou hoje em dia a tranqüilidade e amor, que recebi naquela época. Era um mundo totalmente diferente, outra realidade, mas mamãe fazia dos nossos dias um eterno conto de fada, era um tempo mágico. Queria poder reencontrar esta ingenuidade no meu dia-a-dia, pra que ao reler a história que escrevi até aqui, possa me ver como aquela heroína encantada, que a Carol criança sonhou pra mim.

Serei pra sempre aquele adulto que não esquece a criança que já foi um dia.

4 comentários:

Welker disse...

É preciso ter sido uma criança muito feliz pra não se esquecer de nada que viveu na infância... eu mal cheguei aos 20 e nem lembro se já passei dos 20 anos de idade.

Vera Vilela disse...

Maravilha de história, adoro ler essas coisas de infância. E seu texto é muito leve, bom mesmo de ler.
Eita menina arteira que você foi hein?
Beijão!

Afrodite disse...

Como sentimos falta da infância uma vez que somos adultos!O mais engraçado é lembrar que nessa época queríamos mesmos era 'ser grande' pra fazer o que quisessémos...Ô ingenuidade...rsrs

disse...

A lembrança mais marcante da minha infância é eu ter certeza absoluta que jamais queria me tornar adulta. Um dia entendi que isso era impossível. Então prometi a mim mesma que jamais seria como os adultos, que sempre falaria tudo o que penso e sinto.
Hoje sei o quanto é difícil colocar em prática isso, mas diariamente tento cumprir a promessa e ser íntegra pra mim.
Continuo não gostando dos adultos. Só das crianças.
E é bom saber que existem adultos que nunca cresceram.
Parabéns Carol, vc é uma delas.

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